Clipping - Poupatempo

Jovens Acolhedores

A primeira impressão é a que fica. O ditado popular, presente em nosso cotidiano, quase sempre pauta nossas relações pessoais. São pequenos gestos, como a forma de cumprimentar, o tom da voz ou o modo de atender a um telefonema, que acabam tendo significativo peso na conquista da simpatia — ou antipatia — das pessoas.

Ao entrar em um hospital, público ou privado, o cidadão que necessita de atendimento médico encontra-se fragilizado pelos próprios sintomas que seu organismo manifesta. Natural que tenha, conseqüentemente, certo temor daquele ambiente pouco familiar e por vezes até hostil. Se o primeiro atendimento não for realizado com a devida prudência, certamente o paciente ficará com uma imagem pouco favorável da instituição.

O Sistema Único de Saúde (SUS), criado há 15 anos pela Constituição Federal de 1988, proporcionou a universalidade do acesso dos cidadãos à saúde, acabando com a divisão histórica de “classes” que garantia atendimento gratuito apenas aos brasileiros de primeira categoria que contribuíam com a Previdência Social. Um avanço indiscutível, que vem se aprimorando de forma gradativa, mas que ainda apresenta profundas carências para atingir a plenitude almejada.

Quem já é usuário regular do SUS aprova o sistema, conforme pesquisas de satisfação realizadas pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). O índice de satisfação “alta” e “muito alta” chega a 72% dentre as pessoas que foram internadas ou tiveram um familiar internado.

No entanto, o quadro recessivo de nossa economia tem levado um número expressiva de brasileiros, que não conseguem mais custear seus planos privados de saúde, à rede pública, o que traz dois desafios ao SUS: ampliar e humanizar o atendimento nos hospitais.

A Secretaria de Estado da Saúde vem trabalhando para ampliar o atendimento e promover um salto de qualidade na assistência privada ao cidadão que procura os serviços de Saúde. O fruto desse esforço pode ser medido, dentre outras ações, pela inauguração de 15 novos hospitais, colocados à disposição da população, pelo aumento expressivo do número de transplantes de órgãos realizados pelo SUS de 2000 a 2003 e pelo crescente aporte de recursos ao Dose Certa, maior programa de assistência farmacêutica deste país.

É evidente que muito precisa ser feito, para termos a assistência de qualidade que todos desejamos. No entanto, com o lançamento do projeto “Jovens Acolhedores” nos hospitais estaduais, compromisso assumido publicamente no início da atual gestão e um pedido pessoal do Governador Geraldo Alckmin, estamos promovendo um avanço sem precedentes no atendimentos prestado aos pacientes do SUS em nosso estado.

Cerca de 500 estudantes universitários serão contratados e treinados pela Secretaria para realizar o primeiro contato com o doente assim que ele entrar no hospital, cumprimentando-o de forma atenciosa, prestando orientação eficiente, carinhosa e solidária, com informações precisas e o adequado encaminhamento. Como o próprio nome sugere, o projeto visa acolher, confortar, explicar, proporcionar a segurança de que o paciente necessita e merece.

Quem está com problemas de saúde precisa, sem dúvida, de cuidados médicos, mas carece, igualmente, de atenção. O princípio é simples: a aflição do paciente diminui à medida em que ele é constantemente informado sobre o que está ocorrendo, a que horas ele será atendido, quais serão as etapas desse atendimento e se, por ventura, existe um caso mais grave que o dele exigindo atendimento preferencial.

Essa filosofia já e seguida, em larga escala, pelos hospitais do estado, geridos por Organizações Sociais de Saúde, como Santa Marcelina, Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, Sanatorinhos e Congregação Santa Catarina. Nesse modelo de gestão hospitalar, implantado em 1998 pelo Governo estadual, o índice médio de aprovação dos usuários é de 95%, conforme pesquisas realizadas entre janeiro e setembro deste ano, em cada unidade.

Temos a convicção de que o projeto “Jovens Acolhedores” será o passo decisivo para implantarmos o padrão “Poupatempo” na saúde pública do estado de São Paulo. Todo o investimento em infra-estrutura, equipamentos de última geração, remédios e insumos será insuficiente se não acrescentarmos dois ingredientes indispensáveis à eficácia do SUS em São Paulo: atenção e afeto.

Luiz Roberto Barradas Barata é médico sanitarista e secretário de Estado da Saúde de São Paulo.

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